13.10.06
FUTEBOL, POLÍTICA E CLODOVIL
Para não pensarem que abandonei de vez esse espaço – que já foi mais produtivo –, resolvi dar as caras para abrir um pouco as janelas e arejar o blog. O motivo me parece nobre. Peço desculpas aos meus milhares de leitores ao redor do mundo pela negligência.
A razão que me fez sentar na cadeira e aparecer de novo, mais do que nobre, é contagiante. Não há opção nessa época do ano, pois a política (e mais exatamente o horário eleitoral) aparece bem na hora Jornal Nacional para nos lembrar que já se passaram mais dois anos.
Vamos ao que interessa: política, futebol e religião não se discutem, certo? Infelizmente, sim.Todo santo ano par, a tranqüilidade e a alienação das pessoas são interrompidas por uma profusão de promessas, santinhos, candidatos folclóricos, críticas e celebridades em franca decadência tentando tirar uma casquinha e uns votos. Isso mostra bem como a política não é levada a sério por alguns.
Na quarta (11.10) li um artigo de Lucia Hippolito (cientista política), no blog do Noblat, que tocou num ponto bem interessante. Ela defendeu o recém-eleito deputado federal por São Paulo Clodovil, o autodenominado costureiro (ele detesta ser chamado de estilista). Tirando o fato de Clodovil ter se elegido por um minúsculo partido (PTC) e não possuir um projeto legislativo (ele promete apenas denunciar tudo o que ver de errado), Lucia Hippolito oferece bons argumentos para darmos um crédito ao costureiro.
Eis alguns:
“E nem se diga que isto (de eleger celebridades) é coisa que só dá no Brasil, como a jabuticaba. Ronald Reagan era um ator medíocre em Hollywood quando se lançou na política. Foi duas vezes governador da Califórnia e duas vezes presidente dos Estados Unidos.
“Recentemente, o astro-brucutu Arnold Schwarzenegger tornou-se governador da mesma Califórnia. Quem sabe Arnoldão não termina na Casa Branca? Pode ser menos canastrão que George W. Bush.
“Na Itália, a atriz pornô Cicciolina foi eleita para o Parlamento em 1987, pelo Partido Radical. Na Grécia, a atriz Melina Mercouri foi deputada e ministra da Cultura.
“Enfim, os exemplos são inúmeros – e podem se tornar mais freqüentes, à medida que avança a sociedade-espetáculo.”
Estou citando esse trecho porque é justamente o último parágrafo que me assombra e é onde eu queria chegar. Voltando à abertura, por que não é bom não discutirmos religião política e futebol. A razão é uma só: os três mexem com as pulsões, são movidos pela paixão, ultrapassam a razão. Só que futebol e religião não afetam a nossa vida cotidiana (ou não deveriam). Futebol é o ópio do povo, é o canal ideal para extravasar as tensões acumuladas, o estresse, as broncas do chefe. Religião é o alimento espiritual, sustentado pela fé, portanto, incondicional. E política? Política, não. Política lida com aspectos práticos e diz respeito ao dia-a-dia, não pode ser movido pela paixão, que cega.
Essa cegueira é a pior e a mais virulenta de todas, porque é a mesma do ditado “o pior cego é aquele que não quer ver”. Cegos dessa forma acabam encarando o voto como uma partida de futebol a ser disputada, uma partida em que vale carrinho por trás e cabeçada no adversário, principalmente se o juiz e a torcida não verem.
Ofuscados por ideologias cujas diferenças, hoje, são muito tênues na prática, acabamos não vendo – ou não querendo ver – os defeitos dos nossos candidatos, que acabam sendo por tabela os nossos próprios. Parte dessa militância é como as mães: aos seus olhos, seus rebentos são sempre os mais lindos, os mais espertos etc. E se o destino de pessoas em filas de hospitais e do INSS, nas ruas inseguras e nas escolas depende dessa partida desleal, então há algo de errado no sistema.
O problema não está em elegermos deputados caricatos para que governem por quatro anos. Como diz Lucia Hippolito no mesmo artigo, “quem pode garantir que, dentro do peito de um Clodovil, não bate um coração de parlamentar?”
O problema está no fato de os eleitores serem condicionados pela política do espetáculo, pelas pulsões, pela paixão. A alienação – tanto de esquerda quanto de direita – é perigosa e irmã da intolerância.
O segredo está no voto consciente, pois ninguém é perfeito, mesmo o seu candidato. Ou como diz a propaganda do TSE: “O seu candidato é tão bom quanto o seu voto”.
Avancemos, portanto.
A razão que me fez sentar na cadeira e aparecer de novo, mais do que nobre, é contagiante. Não há opção nessa época do ano, pois a política (e mais exatamente o horário eleitoral) aparece bem na hora Jornal Nacional para nos lembrar que já se passaram mais dois anos.
Vamos ao que interessa: política, futebol e religião não se discutem, certo? Infelizmente, sim.Todo santo ano par, a tranqüilidade e a alienação das pessoas são interrompidas por uma profusão de promessas, santinhos, candidatos folclóricos, críticas e celebridades em franca decadência tentando tirar uma casquinha e uns votos. Isso mostra bem como a política não é levada a sério por alguns.
Na quarta (11.10) li um artigo de Lucia Hippolito (cientista política), no blog do Noblat, que tocou num ponto bem interessante. Ela defendeu o recém-eleito deputado federal por São Paulo Clodovil, o autodenominado costureiro (ele detesta ser chamado de estilista). Tirando o fato de Clodovil ter se elegido por um minúsculo partido (PTC) e não possuir um projeto legislativo (ele promete apenas denunciar tudo o que ver de errado), Lucia Hippolito oferece bons argumentos para darmos um crédito ao costureiro.
Eis alguns:
“E nem se diga que isto (de eleger celebridades) é coisa que só dá no Brasil, como a jabuticaba. Ronald Reagan era um ator medíocre em Hollywood quando se lançou na política. Foi duas vezes governador da Califórnia e duas vezes presidente dos Estados Unidos.
“Recentemente, o astro-brucutu Arnold Schwarzenegger tornou-se governador da mesma Califórnia. Quem sabe Arnoldão não termina na Casa Branca? Pode ser menos canastrão que George W. Bush.
“Na Itália, a atriz pornô Cicciolina foi eleita para o Parlamento em 1987, pelo Partido Radical. Na Grécia, a atriz Melina Mercouri foi deputada e ministra da Cultura.
“Enfim, os exemplos são inúmeros – e podem se tornar mais freqüentes, à medida que avança a sociedade-espetáculo.”
Estou citando esse trecho porque é justamente o último parágrafo que me assombra e é onde eu queria chegar. Voltando à abertura, por que não é bom não discutirmos religião política e futebol. A razão é uma só: os três mexem com as pulsões, são movidos pela paixão, ultrapassam a razão. Só que futebol e religião não afetam a nossa vida cotidiana (ou não deveriam). Futebol é o ópio do povo, é o canal ideal para extravasar as tensões acumuladas, o estresse, as broncas do chefe. Religião é o alimento espiritual, sustentado pela fé, portanto, incondicional. E política? Política, não. Política lida com aspectos práticos e diz respeito ao dia-a-dia, não pode ser movido pela paixão, que cega.
Essa cegueira é a pior e a mais virulenta de todas, porque é a mesma do ditado “o pior cego é aquele que não quer ver”. Cegos dessa forma acabam encarando o voto como uma partida de futebol a ser disputada, uma partida em que vale carrinho por trás e cabeçada no adversário, principalmente se o juiz e a torcida não verem.
Ofuscados por ideologias cujas diferenças, hoje, são muito tênues na prática, acabamos não vendo – ou não querendo ver – os defeitos dos nossos candidatos, que acabam sendo por tabela os nossos próprios. Parte dessa militância é como as mães: aos seus olhos, seus rebentos são sempre os mais lindos, os mais espertos etc. E se o destino de pessoas em filas de hospitais e do INSS, nas ruas inseguras e nas escolas depende dessa partida desleal, então há algo de errado no sistema.
O problema não está em elegermos deputados caricatos para que governem por quatro anos. Como diz Lucia Hippolito no mesmo artigo, “quem pode garantir que, dentro do peito de um Clodovil, não bate um coração de parlamentar?”
O problema está no fato de os eleitores serem condicionados pela política do espetáculo, pelas pulsões, pela paixão. A alienação – tanto de esquerda quanto de direita – é perigosa e irmã da intolerância.
O segredo está no voto consciente, pois ninguém é perfeito, mesmo o seu candidato. Ou como diz a propaganda do TSE: “O seu candidato é tão bom quanto o seu voto”.
Avancemos, portanto.